quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Correto X Politicamente correto

São poucas as coisas que aprendi nas aulas de literatura durante a minha vida escolar as quais eu poderia chamar de impactantes. Mas faz-se necessário neste post o registro de uma delas. Naquele dia, finalmente fizeram-me derrubar de vez o conceito de que a nossa língua portuguesa formal era a absoluta. Até então, na minha cabeça, todas as gírias que utilizávamos, todas as ausências de preposição que causavam erro de concordância, por mais imperceptíveis que fossem, tudo aquilo era condenável. Estava tudo errado e era tudo, digamos, cultura inútil.

Nesta citada aula de literatura foi quando finalmente o professor nos avisou que não existia, por definição, uma linguagem "errada", nem uma linguagem mais correta que a outra. O português informal e suas variações regionais, nada disso estava errado. Dependia apenas da situação.

Por exemplo: a linguagem que você usa em uma reunião de negócios na qual estão sendo tratados assuntos importantes é completamente diferente da linguagem que você usa em um estádio de futebol onde você acaba de presenciar um impedimento mal marcado que anulou o gol da vitória do seu time aos 47 minutos do segundo tempo.

Outro aprendizado curioso que adquirimos com a vida é que, em cada cultura, necessita-se um pouco de bom senso na escolha do que vestir em determinadas ocasiões. Nunca pudemos imaginar, por exemplo, ir sem camisa e de short para uma festa de 15 anos do primo, tampouco ir de terno para o clube com os amigos.

Dito isto, podemos agora comentar um pouco sobre o politicamente correto. Mas no termo pejorativo da palavra, claro. Aquele que agride ou processa um humorista que fala de estupro em meio a um show de comédia, como se isto fosse tão grave quanto fazer uma piada especificamente direcionada para uma conhecida vítima de estupro ali presente. Aquele que defende com unhas e dentes as ocorrências da Parada Gay, ao mesmo tempo em que repudia qualquer movimento ou manifestação em prol do orgulho heterossexual, como se esta fosse uma situação equivalente a agredir um homossexual pura e simplesmente por causa de preconceito. Ou mesmo aquele que critica vorazmente a Copa de 2014 ser realizada no Brasil, mas não vê a hora de ir ao máximo possível de jogos da Copa em vez de organizar um manifesto ou mesmo um protesto contra as obras superfaturadas.

Existem ocasiões em que não há mal algum fazer humor, e outras em que não é apropriado. Realmente não é uma atitude legal brincar com assuntos como estupro para afetar uma vítima do crime. Mas que mal há em usar uma situação qualquer para fazer uma PIADA, em um show de HUMOR? Não há alvo nenhum em específico, a finalidade é simplesmente divertir um público que compareceu à peça unicamente para gargalhar, esquecer os problemas. O mesmo vale para ocasiões em que cabe manifestar orgulho por uma orientação sexual, enquanto em outras não é conveniente. E por aí vai.

O politicamente correto nada mais é do que alguém que vai a um estádio de futebol e pede ao juiz para que por obséquio reveja a decisão previamente tomada, ou alguém que frequenta uma praia de terno, gravata e sapatos sociais.

Um comentário:

  1. Achei legal você citar, indiretamente, aquela final entre Botafogo e Flamengo no Carioca 2007. O gol mal anulado de Dodô realmente foi revoltante!

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