domingo, 22 de janeiro de 2012

Nós já fomos mais... bem humorados

Lembro de já ter criticado em alguns posts a onda de moralismo que surgiu nesse mundo contemporâneo, e que diversas vezes faz com que as pessoas prefiram analisar e criticar a ideologia de piadas banais, ao invés de simplesmente rir. Essa chatice sem fim que é confundir a intenção de fazer rir com a intenção de fazer chorar.

Muito bem. Como se já não estivessem as risadas dos brasileiros suficientemente ameaçadas por essa mania de crucificar o humor com discursos politicamente corretos insuportáveis, eis que surge uma nova forma de atacar os irreverentes: "piadas pobres". Como fazemos com a política, com o esporte, com a música e com tantos outros, agora adquirimos o péssimo hábito de endeusar o humor do exterior (dos EUA, particularmente) e usá-lo para desvalorizar o nosso.

Pois é. Brasileiro é um bicho burro. Por que rir das nossas próprias piadas? Ou, se a achamos tão sem graça assim, por que simplesmente não rir? Pra que, se podemos usar as piadas baratas que surgem por aí para promover nossos profundos conhecimentos políticos e aproveitar essa ótima oportunidade pra destacar todos os defeitos que o país possui?

Eu também não entendi por que a "piada" da Luíza pegou tão rápido, começando de um comercial totalmente despretencioso de qualquer fama especial. Também não entendi, mas também não acho que compartilhá-la tenha tornado alguém mais burro. Acabou se tornando apenas mais um bordão entre tantos que nós temos. Engraçado? Sim, pra quem achou, e não pra quem não achou. E pronto.

Mas você que alguma vez usou a frase da Luíza poderia estar discutindo algo mais produtivo em vez de estar se divertindo com uma "piada tão pobre". Certamente, e você que reclama da piada da Luíza e acha que a sociedade seria melhor se ela nunca tivesse existido... bem, você também poderia estar debatendo temas mais importantes.

Não, não escrevi isso tudo apenas para "defender" uma piadinha que surgiu e logo vai ser esquecida. Serve para expressar o ponto de vista de alguém que não aguenta mais ver tanta reclamação desnecessária por algo que, por mais idiota que seja, é apenas uma diversão. Se não te diverte, ótimo. Nada demais. Se te chateia... aí, o problema não é mais da piada.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Um narrador que não dispensa comentários


Recentemente, talvez pelas declarações de que a Copa de 2014 seria a última narrada por Galvão Bueno, os canais Globo e SporTV promoveram uma série de especiais em homenagem ao narrador. Os programas vendiam a ideia de que este é unanimidade na preferência nacional, e o melhor narrador de todos os tempos. Honestamente, uma ideia que não consegui comprar.

Não vi a Copa de 1994, mas consegui sentir nos programas o quão marcante deve ter sido a narração de Galvão nos gols dos últimos jogos. Não me entendia muito por gente ainda em 98 e não lembrava da sua decepção ao narrar "É o gol da vitória... o gol do título inédito para o futebol francês...". Com certeza, me lembro até hoje da narração de cada "golaço" de Marcos na final contra a Alemanha em 2002 e, obviamente, dos gols de verdade, e sobre ela eu posso comprovar: marcante, sem dúvidas.

Galvão Bueno soube transmitir e inflamar como ninguém a emoção do torcedor brasileiro que assistiu às vitórias e às derrotas da seleção, dos pilotos e até mesmo, como ocorreu recentemente, dos lutadores de MMA, pela TV. Nesse quesito, um narrador quase imbatível sem dúvidas.

O problema é que a profissão de um narrador não se desenrola apenas em jogos finais de seleção brasileira ou em bandeiradas na Fórmula 1. Não consigo chamar de "unanimidade", "mito", "inquestionável" um narrador que frequentemente comete gafes, atropela comentaristas, coloca assuntos desnecessários na transmissão, comenta tópicos sem sequer ter certeza do que está falando, entre outros defeitos que, não à toa, lhe renderam o título de "narrador mais chato do Brasil" no meio de muitas conversas informais sobre esportes.

Galvão parece ser uma excelente pessoa, e é sem dúvidas o ícone da torcida brasileira. O que deixa a desejar é justamente aquilo pelo qual ele é exaltado: o exercício da profissão. "Menos bordões e mais qualidade" - acho que esse seria o meu pedido para Galvão Bueno.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Ressuscitai, cultura brasileira!

Eis que vem se destacando, finalmente, uma das mais novas integrantes do seletíssimo grupo de cantoras que conseguem reunir talento e beleza naturalmente, de uma forma simples e humilde. Shakira, Mariah Carey, Beyoncé, Avril Lavigne, Amy Lee, Paula Toller, Maria Rita e algumas outras agora tem a companhia da grata revelação Paula Fernandes nessa seleção, que poderia e deveria ser bem maior.

Atualmente, vemos o som e as letras bem compostas serem substituídas na preferência popular por um desfile de moda (?) que sem mais nem menos resolveu abandonar as passarelas para invadir os palcos. É um desejo enorme pelo destaque visual, pelo que possa ser diferente aos olhos, pela preponderância das cores e do físico sobre a própria harmonia dos instrumentos. Artistas agora ganham a mídia com franjas características; com letras de 5 palavras que nem sequer foram compostas pelos próprios; com cores tão variadas quanto possível; ou simplesmente indo aos microfones para dizer que só não aplicam silicone mais de uma vez por ano por proibição médica.

Você provavelmente pensou, respectivamente, em Justin Bieber, Michel Teló, Restart e Valeska Popozuda. Antes fossem só eles - a moda já pegou.

Acontece que, em meio a esse tempo de sucesso barato e não necessariamente nutrido de algum talento, ainda há os nobres guerreiros que tem a consciência de que música é feita para os ouvidos, e não para os olhos, como disse uma vez a cantora Adele. Ainda existem os que tentam salvar o rock da infestação das cores e da banalização do som; existem os que tentam fazer com que o pop seja um som universal, e não apenas uma moda passageira feita exclusivamente para adolescentes; e, por que não, existem os que tentam resgatar o antigo sertanejo em meio ao lamaçal, apelidado "universitário", que quase o engoliu. Nada contra a maioria das músicas de Jorge e Matheus, Luan Santana e até algumas do próprio Michel Teló, mas o sertanejo "de verdade" não podia ser esquecido. E, depois de honradas tentativas promovidas por alguns - meu destaque iria para Victor e Léo - cai do céu Paula Fernandes para tomar conta do serviço.

Certamente, haverá quem confunda sertanejo com falta de talento, já que há muito caiu nas graças do senso comum o ódio não só pelo sertanejo, como pela cultura brasileira em geral. Só que talento não se trata do subjetivo, não se trata do gostar ou não gostar. Demonstra-se talento musical quando se consegue atingir diferentes idades, de diferentes classes sociais, exclusivamente com a voz, com o som, com aquilo que a sua profissão pressupõe que você sabe fazer bem feito.

Quando se tem uma voz extraordinária, não é necessário apelar para o visual de uma aparência igualmente impressionante para conquistar o sucesso, e Paula Fernandes sabe disso. Eleita a 16ª mulher mais sexy do planeta, Paula dispensa a vulgaridade do uso de poucas roupas - tão comum atualmente - em todos os seus shows a que tive acesso no Youtube. Geralmente acompanhada de seu clássico violão, a cantora se abstém de outra oportunidade de se caracterizar para as câmeras: um violão pintado de rosa choque, e/ou com escritas em amarelo fluorescente certamente estaria entre as ideias "geniais" de muitos pseudoartistas por aí para se tornarem únicos e imortalizados pela mídia.

Encantando um público imenso com suas próprias composições, a artista emociona com músicas lentas e letras românticas, bem construídas; mas também não deixa de lado em outras músicas o estilo country mais agitado que muito remete aos antigos hinos sertanejos, que narravam as histórias do peão, do boiadeiro, do campo em geral. Muitíssimo recomendo os exemplos que deixei abaixo e que ilustram essas descrições.

Você pode não gostar, mas clássico é clássico. E ele está de volta.