quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Tempos modernos

Final da Copa de 2002. Era a primeira vez que eu parava pra assistir a uma partida inteira de futebol. Já havia visto partes de jogos do Flamengo ou até do próprio Brasil naquela copa, mas nunca havia passado 110 minutos inteiros na frente de uma televisão pra ver futebol. E só o faria naquele dia porque sabia que seria uma reunião descontraída, com churrasco, conversas e, principalmente, uma torcida em comum.

No pacato bairrinho de Itaipuaçu, a vizinhança inteira da rua 5 se reuniu, amontoando na estrada sem asfalto cadeiras viradas pra uma TV de lá suas 30 polegadas, coberta por uma tenda. Desnecessária por sinal, porque fazia um dia surrealmente ensolarado e com tudo mais que pudesse acusar uma boa festa. Isso acontecia porque ali havia torcedores fanáticos por uma seleção de jogadores com igual amor pela sua pátria, que sabiam transmitir a confiança e a emoção de uma vitória em uma partida de futebol.

Quem diria que, nove anos depois, estaria eu dentro de um apartamento em uma noite de chuva, chateado por não haver rodada do Brasileirão "só porque" a seleção ia jogar. Logo eu, que até tão pouco tempo torcia e defendia fervorosamente a seleção do nosso país, não resisti e hoje sou mais um completo desanimado. Talvez porque ela simplesmente não seja mais a seleção do nosso país, ou talvez porque os jogadores não tenham mais aquele mesmo entusiasmo de antes e estejam com isso "contaminando" os torcedores; realmente não sei.

As cada vez mais insanas entrevistas do nosso intocável mandatário Ricardo Teixeira, o e-mail do lateral Marcelo ao Real Madrid - no qual afirmava ter conseguido "se livrar" dos jogos pela seleção -, a falta de vibração e de ambição: tudo vem colaborando pra esse meu desânimo (e de muitos outros).

Especificamente ontem, só fizeram crescer o marasmo. Contra uma seleção argentina que seria facilmente batida por qualquer clube da série A daqui, os brasileiros poucas vezes mostraram empenho e falta de vencer. Deixam apenas cada vez mais nítido o descaso com a vibração e a objetividade, além do medo de se lesionar em jogadas mais duras.

E o bode expiatório dessa vez não foi um dos dois maiores sacos de pancadas do esporte - a arbitragem e a sorte - mas a falta de entrosamento. Não havia dessa vez como por a culpa no pobre cidadão do apito, e a sorte talvez possa ter sua parcela de culpa por ter jogado contra Leandro Damião e suas duas finalizações na trave. Mas todos vimos que foram lances isolados e que a seleção, de fato e mais uma vez, fez uma partida ridícula.

A questão é, sim, mais séria do que pode parecer. E não se trata do ressurgimento de jogadores habilidosos como os das gerações de Pelé, Zico ou Romário. Já há algum tempo, trata-se principalmente da recuperação do amor à camisa e da identidade dos jogadores com o país em que nasceram e onde se tornaram gente. Eles costumam se esquecer disso mas, acima de tudo, também são filhos da pátria.

Um comentário:

  1. Verdade, por isso atualmente sou mais fã do MMA, achei lindo o Minotauro falando que ficou mt tempo sem lutar, que tava machucado, que teve pouco tempo pra treinar e que só fez o esforço pq pela primeira vez lutaria no seu próprio país. Falta o nacionalismo ;/

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