sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Sem etiqueta, sem preço

Data-se de 2007 uma manhã que parecia comum em uma estação de metrô no centro de Washington. Vestindo nada informais jeans, camisa branca e boné, um sujeito sentou-se próximo à entrada, puxou seu violino discretamente e começou a tocar para as mais de mil pessoas que por lá passaram. O desinteresse das pessoas por um homem comum, para alguns um vagabundo, sentado à entrada da estação interpretando uma melodia qualquer em seu violino, somado à pressa, fez com que rigorosamente ninguém parasse para apreciar ou elogiar o pobre rapaz. Exceção feita a algumas crianças, encantadas com o som que escutavam e que muitas vezes pediam aos pais, sem sucesso, para que parassem um pouco para ouvir.

Poucos dias antes, aquele mesmo cidadão estivera no Symphony Hall, Boston, onde os melhores lugares estão disponíveis a cerca de cem dólares. Agora você talvez se pergunte como alguém que toca violino sentado ao chão de uma estação de metrô conseguiria dinheiro para ter comparecido a um lugar tão fino. Isso porque é difícil acreditar que a mesma pessoa que tocara no Symphony Hall estava em performance numa estação de metrô poucos dias depois; mas esse é exatamente o caso. Joshua Bell, considerado um dos maiores violinistas do mundo, se propôs a levar seu violino de quase 3 séculos e avaliado em mais de 3 milhões de dólares até o chão de uma estação movimentada, apenas para ver qual seria a reação das pessoas.

Por que será que isso aconteceu? Por que pessoas que teriam sido capazes de pagar 100 dólares em um concerto, simplesmente ignoraram uma atuação de rigorosamente o mesmo conteúdo, tendo esta acontecido em uma estação?

Ignoramos ou julgamos obras mesmo sem conhecê-las ou nunca termos ouvido, como músicas, programas, filmes; deixamos passar coisas importantes na vida apenas por não percebermos de imediato seu valor; passamos a respeitar mais ou respeitar menos aquela pessoa ou determinado grupo de pessoas, simplesmente para não contrariar o senso comum; isso tudo às vezes pela simples falta de uma marca. Um registro que comprove que estamos certos em apreciar aquilo, que não vamos ser considerados "diferentes" e que não estamos tendo mau gosto.

A verdade é que, como Bell nos mostrou naquele episódio, não há situação certa para essa ou aquela preferência, não é necessário haver grife para haver qualidade, não há momento errado para apreciar aquilo de que se gosta. O que há é a necessidade de entender que uma obra sempre valerá mais do que a sua assinatura.

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